Resumo
O envelhecimento da população tem gerado um aumento significativo na necessidade de cuidados aos idosos. Muitas vezes, esses cuidados são fornecidos por cuidadores informais, como familiares e amigos próximos, também eles idosos.
Relatamos o caso clínico de um doente de sexo masculino, 92 anos, sem antecedentes
Psiquiátricos até agosto de 2023, data em que recorre ao Serviço de Urgência por ideação suicida. Junto do doente e familiares apuramos tratar-se de um senhor cognitivamente íntegro, totalmente autónomo para todas as atividades de vida diárias, que reside sozinho com a sua esposa de 86 anos com Demência de Alzheimer em estadio avançado. Apesar do apoio prestado por 2 dos 4 filhos, era o utente que geria vários domínios no domicílio nomeadamente refeições, higiene, administração de medicação e outros cuidados prestados à esposa, desde há vários anos. Face à exaustão observada e humor deprimido com ideias de morte associadas, propôs-se internamento no serviço de Psiquiatria para contenção de crise suicidária, que o doente aceitou.
Este caso clínico relata uma realidade encoberta pelo sentido de dever na prestação de cuidados, e destaca a urgência de reconhecer a exaustão do cuidador informal no contexto do envelhecimento da população como uma preocupação de saúde pública e sociológica. Ao relatar esta experiência real, esperamos alertar a comunidade científica e os responsáveis políticos para a necessidade de medidas abrangentes que abordem a exaustão do cuidador informal e melhorem a qualidade de vida dos idosos.
Referências
Instituto Nacional de Estatística (2021). Censos 2021 Resultados definitivos. Lisboa: INE. Censos 2021 (ine.pt)
Sequeira, C. (2007). Cuidar de Idosos dependente. Lisboa. LIDEL